Construa uma relação, não a atropele ...
No meu consultório, vejo com frequência relações atropeladas, e não construídas. A necessidade de estar com alguém, somada à vida contemporânea — marcada pelo consumismo e pela pressa por resultados imediatos — tem gerado relações superficiais, sem profundidade, respeito ou compreensão, e carregadas de individualismo.
A imposição do “eu” e o descarte do outro predominam. Surge, assim, o exclusivismo e o egocentrismo: “Eu quero, eu preciso, eu escolho, eu decido”, desprezando o outro. Cria-se a ilusão de que, se alguém não nos faz felizes ou não nos dá prazer imediato, podemos descartá-lo com a mesma rapidez com que o encontramos.
Relações atropeladas pulam fases essenciais: conhecimento, amizade, companheirismo e, sobretudo, tempo. Precisamos de tempo para conhecer o outro, para trocar experiências e criar intimidade — tempo cronológico, e não apenas tecnológico.
Vivemos em uma geração confusa de sentimentos e valores, mas altamente conectada em conhecimento, técnica e comunicação. Não repudio a tecnologia — ela é essencial —, mas proponho uma reflexão: muitas pessoas desejam relações duradouras, mas não assumem a responsabilidade de construí-las. Jogam para o outro a culpa quando a relação se desfaz, esquecendo que a manutenção depende de ambos.
É fundamental repensar nossas relações e promover autorreflexão baseada em compreensão, flexibilidade, clareza, tolerância, humanidade e, acima de tudo, responsabilidade. Construir relações é um ato consciente, que exige presença, cuidado e dedicação.